quarta-feira, 29 de julho de 2009

Céu. Inferno.

Vou contar-lhe um segredo que me envergonha um bocado. Por favor, prometa não rir de mim, afinal não fui só eu que tive essa dúvida - aposto que muitos filósofos amadores por aí já passaram noites acordados, chegando a uma conclusão tão confusa quanto minhas perguntas.
Esses dias eu e Taylor tivemos uma briga feia na cozinha. Não me recordo o motivo, mas atualmente nós andamos brigando por qualquer coisa - qualquer coisa mesmo...

- Ah, Vamos lá, Embry! Não seja ridícula... - Taylor bufou.Eu não falei nada, somente o encarei com uma expressão que não pude reconhecer no momento. Deveria ser de raiva. Ou de tristeza.
- Quer saber? E adoraria que você morresse agora mesmo, eu não aguento mais olhar na sua cara.
Então ele foi embora, com as feições distorcidas por uma raiva que me entristeceu. E eu fiquei lá, parada, degustando o sabor ácido das palavras ditas por uma das pessoas que eu mais confiava no mundo.
Tudo bem, eu concordo, não é lá um sentimento tão comum entre irmãos, mas eu realmente amo o idiota do Taylor. Eu não sei bem se é recíproco, por isso não faço questão de deixar meus sentimentos tão explícitos.
Mas enfim, aquilo me magoou. Fiquei imaginando se eu morresse mesmo, como ele disse. Aquele pensamento fez um arrepio percorrer todo o meu corpo, porém não somente por causa daquela discussão, e sim pelo simples fato de eu desconhecer a morte. O que vem após a morte.
Alguns acreditam que a alma é imortal, portanto nunca morreremos; porém tem aqueles que acreditam que ou se vai para o Céu ou ao Inferno.
Daí eu me pergunto: Para onde eu iria? Eu não acredito que eu vá para o Céu - não sou tão perfeita para isso. Mas também não sou nenhum monstro a ponto de merecer o Hades, ou seja lá a denominação mais correta - mais assustadora.
No entanto não pude não indagar: e se por acaso não existir nem Céu e nem Inferno, o que mais aconteceria?
E se nós formos somente um corpo, que quando morre se decompõe e coloca um ponto final no nosso passado, presente e futuro?
E se...

Nessa altura eu já estava lacrimejando de modo infantil e vergonhoso. Eu não reajo bem a perguntas desse naipe - perguntas filosoficas demais fazem minha idéia de ser e estar no mundo perder-se completamente, isso eu sabia muito bem. Porém o que eu não sabia era que Taylor me espiava da porta da cozinha, revelando o espanto e o arrependimento pelos olhos de um azul tão ávido quanto o Céu, e ao mesmo tempo tão amedrontador quanto o Inferno.
Eu quis sumir.

- Embry? - murmurou, os olhos a fitar os meus, a me incomodar mais.
Não respondi. Esperei que as ridículas lágrimas voltasse ao lugar de origem. Pode-se concluir que não deu certo.
- Embry, olha, eu... - ele se aproximou, indeciso - Esquece aquilo, tá? Foi só um... - ele suspirou, visivelmente incomodado com a situação. - Esquece.
Não falei nada. Não bufei, não suspirei... Mal pisquei, pra falar a verdade. Fiquei sentindo a pontinha de arrependimento que Taylor se permitiu mostrar.
Ele abaixou a cabeça e bagunçou os cabelos, como sempre fazia quando estava sem graça. E então ele foi embora, agora de verdade. Pude ouvir o destrancar e o trancar do portão.

No entanto as dúvidas - todas elas - ficaram comigo.
Mas elas não me torturavam tanto quanto o peso daqueles olhos azuis.

Um comentário:

  1. Gostei do blog! Muito interessante!


    Você me relembra vagamente alguém... Mas bom, temos uma escritora!

    =)

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